Agora é oficial (e permanente): esta praça em SP é território de respeito LGBT
/A Prefeitura instalou bandeiras do arco-íris no entorno do Largo do Arouche, e a população fez um pedido – que foi aceito. Veja um exemplo incrível de participação social usando as ferramentas da Change.org
As bandeiras do arco-íris brilham, no alto de postes no Largo do Arouche, na região central de São Paulo. Pessoas param, olham para cima, apontam os símbolos do orgulho LGBT. Enquanto isso, a Prefeitura de São Paulo finalmente posta uma resposta oficial na página do abaixo-assinado, que junta mais de 5.600 assinaturas coletadas pelo jornalista Helcio Beuclair em conjunto com o grupo que faz parte, o coletivo Arouchianos.
Era o que faltava para a vitória: o Poder Público confirmou que as bandeiras do arco-íris ficarão de forma permanente no Arouche e na avenida Vieira de Carvalho. Além disso, a Prefeitura disse prever a ampliação do número de bandeiras arco-íris, mas sem estimar número nem os locais onde ficarão os símbolos.
Para Helcio – baiano, 31 anos, homossexual, jornalista que abraçou há cerca de 5 anos o Largo do Arouche como sua casa –, a vitória tem um sabor especial. "A comunidade LGBT da periferia que se encontra no Arouche comemora as bandeiras, e comemora e deseja muito que o número delas seja ampliado", conta ele.
A festa já tem data para ocorrer – no domingo, dia 28 de agosto, a partir das 18h até o fim da noite. Todas e todos estão convidados para ir ao Largo do Arouche nesta data, segundo Helcio. Ele detalha que o coletivo Arouchianos vai celebrar "com muita dança, com muito babado, com muita rua e muita praça". A visibilidade e a reafirmação de identidade LGBT ganharam com as bandeiras.
Paixão à primeira vista
Não é de hoje a relação de Helcio com o Largo do Arouche. Tudo começou com sua mudança para São Paulo, no ano de 2009. Enquanto morava na zona norte, um amigo o levou para conhecer o pedaço do centro paulistano que se tornaria sua futura casa. Foi paixão à primeira vista.
"Conheci uma realidade diferente daquela que eu estava acostumado, de opressão. Quando vi que as pessoas podiam andar de mãos dadas, beijar na boca sem sofrer nenhuma repressão, fiquei impactado, chorei à noite", relembra. "Isso me causou espanto, muita emoção, e eu percebi que tinha o direito de amar", afirma.
O mais importante no Arouche, para Helcio, é a segurança que o local transmite para que as pessoas possam viver como quiserem e se sociabilizarem. "Ali, elas se sentem seguras e respeitadas, ocupam um espaço público que acolhe essas pessoas – a maioria vêm da periferia mais pobre da cidade de São Paulo", reflete.
Esse público diferente do que frequenta regiões elitizadas onde há forte presença LGBT – Helcio cita como exemplos a rua Frei Caneca e os Jardins – é o que cativa e causa fascinação. "[O Arouche] recebe gente de todas as partes do Brasil, como eu, que vim da Bahia", diz.
"Há gays aqui que vieram do Haiti, de Uganda, de países onde há pena de morte para quem é LGBT. O bairro serve de moradia, há comércios que recebem LGBTs de forma educada, humana, sem discriminação. Além de tudo isso, @s amig@s que vêm de Guaianazes, Brasilândia, Taipas, podem dançar, se divertir e se encontrar", detalha Helcio.
Bandeira arrancada
Mas nem tudo são flores. "Alguém violentou uma das bandeiras", lamenta Helcio, vendo que um dos símbolos do orgulho LGBT foi arrancado do poste onde estava afixado.
"É importante que o Poder Público atue desde já. Não é só deixar lá, mas fazer a manutenção dessas bandeiras, já que há um compromisso público", diz ele.
Se por um lado a violência preocupa, por outro o jornalista acha que este episódio coloca em evidência a necessidade de respeito aos LGBTs em São Paulo.
"[A colocação das bandeiras] Está criando um debate no bairro. Inclusive, a importância das bandeiras é levantar o debate entre os favoráveis e os contrários", pondera o jornalista. Este tipo de repressão só tende a unir e aglutinar ainda mais a comunidade LGBT, na opinião de Helcio.
Frustrações
A vitória foi importante, mas o jornalista aponta episódios no contato com a Prefeitura de São Paulo que causaram desânimo: há algumas semanas, a administração municipal marcou e desmarcou uma reunião com ele e o coletivo para a entrega do abaixo-assinado. Esse encontro nunca mais foi mencionado e não está previsto para acontecer.
"Primeiro, marcaram um encontro para sermos recebidos pelo Secretário de Direitos Humanos, pelo Subprefeito da Sé e o Secretário de Obras. Após alguns dias, reformularam o encontro. Quando estávamos prontos para ir, disseram que não ia ter reunião. Isso frustrou a gente", lamenta Helcio.
Outro ponto frustrante é a falta de dados concretos sobre a ampliação no número de bandeiras no bairro. A Prefeitura deu um sinal positivo, mas o coletivo quer algo mais sólido, segundo o jornalista. "Nós estamos 50% felizes. Achamos importante a prefeitura se comprometer a estudar essa ampliação, mas isso pode ter um resultado positivo ou não."
Próximo passo
O próximo passo que Helcio quer é uma mobilização pela instalação de banheiros públicos no Largo do Arouche. Isso ajudará as pessoas que convivem no local, que tem muitos bares e comércio nos arredores. A ideia é fazer uma nova petição em conjunto com o coletivo, se os demais integrantes toparem.
"Penso em algo parecido com o modelo que havia no Rio de Janeiro, chamado UFA, mas que seja conectado à rede de esgoto para que não transborde", comenta. Para ele, essa nova mobilização só faz sentido se for feita com união de todos, de forma semelhante à petição pelas bandeiras arco-íris. "Unir forças faz toda a diferença", pondera Helcio.